quinta-feira, 2 de junho de 2011

EXCLUSIVO | Minha infância nas noites: de Santo Antonio, São João e São Pedro | Prof. Fabiano Calixto. deu no A1

“Oh! Saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais” naquela época, as noites de junho eram repletas de alegrias e minha vida era multicolorida como as cores das vestes de um arlequim. Fogueiras, simpatias, foguetinhos, bandeirinhas de todas as cores, roupas floridas, chapéu de palhas, cantigas de rodas, mingau e bolo marcaram a minha infância: nas noites de Santo Antonio, São João e São Pedro.

Uniam-se ao pé da fogueira aos garotos e garotas canduros e saltitavam, soltavam gargalhadas, quando assistiam ao gingado do boi-bumbá e contemplavam os céus estrelados. O folclore e a poesia popular manifestavam-se pelas nossas brincadeiras pueris, através das cantigas de rodas e pelo compromisso assumido diante da fogueira, que era testemunha dos nossos pactos, quando fazíamos o ritual que nos davam o laço familiar “Santo Antonio disse, São Pedro confirmou que havemos de ser compadres que Jesus Cristo mandou.”


Meninos e meninas do meu tempo, todos com as mãos entrelaçadas faziam uma gigantesca roda e com uma só voz entoavam canções infantis: “Atirei o páu no gato tô to, mas o gato tô tô, não morreu reu reu...”; “Bomba queiro, Bomba queiro dê licença de eu passar carregados de filhinhos para casa de morar...”, “Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar...”

Magalhães Barata, minha rua de hoje e de outrora, nos tempos passados não havia um tráfego tão intenso como agora, por isso ficávamos à vontade, corríamos e brincávamos de “pira mãe”.

Nas noites de Santo Antonio, São João e São Pedro eram comuns o meu pai soltar balões, naquela época, não era crime soltar balões e todos os moradores da rua aplaudiam ao espetáculo, que era o desaparecimento daquela bola de fogo nos céus como se fosse um cometa. Na manhã seguinte, com um caderno dentro de um saco plástico e um copo plástico pendurado na ponta do dedo, eu, e a garotada do meu tempo, íamos à escola, “São José Operário” e no caminho dela comentávamos sobre a alegria da noite anterior, enfim, “que tempo bom que não volta nunca mais”.

Noites de junho, noites marcantes, noites dos banhos de cheiros, noites dos fogos de artifícios, noites das bandeirolas coloridas, noites do mungunzá, noites do tradicional terreiro junino em que o locutor, hoje conhecido como DJ, respeitava a nossa tradição cultural. Os incansáveis casais caipiras dançavam ao som da aparelhagem e do disco de vinil e ouviam com muito entusiasmo as letras dos forrós, que tematizavam a cultura nordestina, a literatura de cordel, o desafio, os versos, os sons, as rimas e os ritmos da canção.

Agora, as cores das bandeiras foram substituídas pelo sangue humano e o foguetinho pelo revólver, o folclore e a poesia popular pelos assaltos constantes e o tradicional forró pelo tecnomelody.

Os tradicionais terreiros juninos, de minha infância, ficaram apenas na minha memória, porque o que se tem, hoje, são só uns amontoados de músicas que fogem da realidade folclórica e cultural vigente. Dias de Santo Antonio, São João e São Pedro são apenas registrados no calendário, pois os proprietários de aparelhagens não satisfazem a necessidade cultural do povo, pois se limitam em oferecer nos “forrós juninos” melody, melody e melody.

O nosso locutor perdeu seu espaço para os ávidos DJs e agora a quadra de junho já não tem mais forró, bandeirinhas, chapéus de palhas, porque para os DJs o importante é evocar os nomes das gangues, que eufemicamente os chamam de “equipes”. Equipe para mim é um grupo de alunos que realizam um trabalho escolar; equipe é um grupo de médicos que lutam por um bem comum: salvar vidas; equipe é um grupo de bombeiros que estão na lida praticando atos heroicos e não indivíduos que praticam a rebeldia, a desordem e o vandalismo.

Assim, como seria importante se eu pudesse voltar ao passado e reviver os momentos inefáveis da minha infância. Como seria gratificante se no momento presente as noites de Santo Antonio, São João e São Pedro fossem como de outrora, cheias de cores e alegrias.


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