De selvagerias, já bastam as nossas. De torcedores selvagens, já bastam - e como - os que temos por aqui. Torcedores incivilizados, bestializados por suas paixões, ensandecidos por seus despropósitos, gente assim nós queremos exportar, e não importar.
Torcedores chilenos, cerca de 200, ao que se presume, ofereceram ao mundo exemplos de sevageria, violência e incivilidade quando invadiram, sem ingresso, dependências do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, justamente no dia em que a seleção de seu país protagonizou um dos feitos mais vistosos, heróicos e emblemáticos da história das Copas do Mundo, ao apresentar um belo futebol e eliminar a seleção da Espanha, atual campeã mundial.
A invasão não se fez sem consequências. Não se fez sem selvagerias assustadoras. Houve quebra-quebra. Houve confrontos com a polícia. Houve correria e quase pânico entre muitos que nada tinham a ver com os vândalos, inclusive profissionais de Imprensa do mundo inteiro que na ocasião trabalhavam no local dos tumultos.
Por que a falha - visível, evidente e inadmissível - de segurança que permitiu aos vândalos se concentrarem nas imediações do local que pretendiam invadir, até que se oferecesse, como de fato se ofereceu, uma oportunidade para protagonizarem as cenas deploráveis?
De quem foi a responsabilidade pela movimentação, à vontade, dos selvagens que espreitavam o momento oportuno para agir? Por que não houve maior sintonia, maior integração entre as ações de seguranças particulares contratados pela Fifa e policiais que dão apoio em áreas nas imediações do estádio?
Menos mal que a Polícia Federal, após deter e identificar 85 vândalos, estabeleceu-lhes o prazo de 72 horas, a contar de quarta-feira última, para que abandonem o país, sob pena de que sejam deportados com base no Estatuto dos Estrangeiros. Mas basta isso? Talvez não.
O presidente da Federação Chilena de Futebol, Sergio Jadue, diz que já pediu à embaixada chilena no Brasil a lista dos 85 nomes de torcedores chilenos que acabaram detidos para proibi-los de acompanhar qualquer jogo disputado nos campeonatos oficiais do Chile. Vai ser preciso, porém, estudar a legislação para se aplicar o veto à presença dos elementos em estádios.
“O que os 85 torcedores fizeram nós condenamos profundamente. Eles erraram muito. O que os torcedores fizeram no Maracanã é condenável ao extremo. Pedi logo cedo aos colegas, ao secretário executivo, que olhem nossa legislação e que nós possamos aplicar o direito de admissão e proibir estas pessoas que se dizem torcedores de assistir aos jogos do nosso campeonato, aos jogos de nossa seleção e de qualquer outra equipe nacional”, declarou Jadou.
O fato da invasão já ser o segundo episódio em que os torcedores chilenos romperam as normas de segurança da Copa (o primeiro ocorreu na Arena Pantanal, com torcedores portando rojões) preocupa muito o presidente da federação, como ele mesmo reconheceu.
“Primeiro temos que separar as justiças, a ordinária e a desportiva. A Justiça ordinária quem precisa cuidar é a embaixada. Conhecendo a Fifa, já imagino que vamos ter que responder a um expediente disciplinar. E vamos nos defender conforme a imputação. Mas no futebol nós não queremos gente que faça isto. Não queremos nunca mais. E por isso estamos estudando aplicar o direito de admissão nesses torcedores negativos, que fogem da característica do nossos torcedores”, reforçou o dirigente, ressaltando o fato de que a federação e a seleção chilenas não poderem ser responsabilizadas pela atitude de torcedores que foram ao Maracanã sem ingressos para cometer a infração.
Sim. Nem a federação, nem a seleção podem ser responsabilizadas. Mas é preciso que a punição aos selvagens nao se esgote na mera expulsão do Brasil.
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