quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Pará é o sexto Estado mais violento para negros, diz estudo


O Pará é o sexto Estado mais violento para negros no País. Segundo estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um homem da cor negra no Estado tem sua expectativa reduzida em 4,28 anos ao nascer em razão da violência. A média é quase três vezes superior a expectativa de um homem paraense de outra etnia (1,68). O número também é bem acima da média nacional, que apontou 3,5 anos. No ranking nacional, o Pará só fica atrás das proporções dos Estados de Alagoas (6,21 anos), Espírito Santo (5,18 anos), Bahia (4,37), Paraíba (4,81) e Pernambuco (4,52). Santa Catarina e São Paulo apontaram as menores médias: 2,01 anos e 2,08, respectivamente.

Segundo o estudo, a estimativa leva em conta dois cálculos: "uma função sobrevivência observada nos dados e uma função sobrevivência contrafactual, associada a um cenário em que não houvesse violência. Essas funções sobrevivência indicam a probabilidade de um indivíduo com determinada idade e outras características (cor da pele, gênero e município de residência) viver" até determinada idade.

Quando o levantamento avalia apenas os casos de homicídios, o Pará surge em situação ainda pior, na quarta posição do ranking nacional. Um negro no Estado perde, no geral, 2,67 anos de vida em sua expectativa ao nascer. Entre os homens não negros, essa expectativa cai para 0,88. Não por menos, o Estado também figura entre as quatro maiores taxas de homicídios de negros do País. Segundo o Ipea, 55 homens negros serão assassinados no Pará em cada grupo de 100 mil. No universo dos homens de outra cor, essa taxa é reduzida para 15 a cada 100 mil.


Como comparativo, em todo o País, os homicídios reduzem a vida dos homens negros em 1,73 anos contra 0,81 dos não negros. A taxa de homicídios de negros no Brasil é de 36 para cada 100 mil; para não negros, ela é de 15,2. Ou seja, para cada homicídio de não negro no País, 2,4 negros são assassinados. Novamente Alagoas figura em primeiro lugar nestes rankings. No estado, um homem negro tem sua expectativa reduzida em 4,08 anos ao nascer em razão dos homicídios. Em seguida estão Espírito Santo, com 2,97 anos, e Paraíba, com 2,81 anos a menos. Santa Catarina possui o índice mais baixo (0,71 anos a menos).

As posições são as mesmas na análise das taxas de homicídios de negros: Alagoas, com 80,5 a cada 100 mil; Espírito Santo, com 65; e Paraíba, com 60,5. Na outra ponta, Santa Catarina volta aparecer em primeiro, com 13,4 assassinatos a cada grupo de 100 mil. Mas Piauí, dessa vez, surge em segundo, com média de 14,3 entre mil homens negros. "O negro é duplamente discriminado no Brasil, por sua situação socioeconômica e por sua cor de pele. Tais discriminações combinadas podem explicar a maior prevalência de homicídios de negros vis-à-vis o resto da população", afirma o estudo.

Segundo o Ipea, o levantamento tem como objetivo analisar as mortes violentas e os impactos na expectativa de vida da população, entendendo que, além de características socioeconômicas, a cor da pele aumenta a probabilidade de alguém ser assassinado. Segundo o documento, apenas 6,8% dos negros estão entre os 10% brasileiros mais ricos, enquanto que, dentre a população pobre, os negros prevalecem: representam 55,28% da população entre os 50% mais pobres do País. "Por um lado, a letalidade violenta de negros no Brasil associada à questão socioeconômica, em parte, já decorre da própria ideologia racista. Por outro lado, a perpetuação de estereótipos sobre o papel do negro na sociedade muitas vezes o associa a indivíduos perigosos ou criminosos, o que pode fazer aumentar a probabilidade de vitimização destes indivíduos, além de fazer perpetuar determinados estigmas", afirma a pesquisa.

Apenas dois quesitos analisados pelo Ipea – taxa de suicídio e mortes por acidentes – apresentam indicadores superiores para a população não negra em relação à negra em comparação com o total dos habitantes do país em 2010. Os autores do estudo demonstram preocupação com a descrença da população negra com ajuda policial ao ser vítima de violência. Cerca de 61,8% das vítimas de agressão negras não procuram ajuda policial – contra 38,2% dos não negros. Nos questionários do Ministério da Saúde analisados, 60,3% dos negros apontaram que não vão até a polícia porque “não acreditam” na instituição; outros 60,7% responderam que não queriam intervenção policial no caso por medo ou represália. Quando se avaliam os dados da população não negra, os indicadores caem para 39,7% e 39,3%, respectivamente.

Os dados do Ipea também mostram que a população carcerária do país é majoritariamente negra: são 252.796 mil negros e pardos, ante 169.975 não negros, conforme levantamento do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça. O estudo, intitulado “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”, é divulgado na véspera do Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quarta, dia 20 de novembro.

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