té este último final de semana, quase 30 pessoas já haviam sido presas, em três Estados do país, por envolvimento num incidente pavoroso na Arena Joinville, durante partida válida pela última rodada do Campeonato Brasileiro.
Muitos insistem em chamar esses personagens de torcedores. Muitos teimam em considerá-los integrantes do que denominam de torcidas organizadas. Nem uma coisa, nem outra. Nem torcedores, nem torcidas organizadas. Vândalos. É o que são.
Chamar esses cidadãos de vândalos representa reconhecer-lhes o direito de gozar da presunção de inocência, aquele princípio segundo o qual ninguém haverá de ser tido como criminoso até que tenha sido condenado em definitivo.
Mas as investigações policiais sobre os episódios de Joinville demonstram, uma vez mais, que esses elementos não são propriamente vândalos, mas ligados à criminalidade.
A Polícia do Rio tem recolhido, nos últimos dias, evidências sobre a vinculação de torcidas organizadas com o tráfico e com as milícias. Para quem não sabe, as milícias são grupos de extermínio que, a título de combaterem o banditismo, seguem a lei do olho por olho, dente por dente. Policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na ativa, se transformam, assim, em justiceiros - portanto, em criminosos.
De de onde provêm os recursos financeiros dessas organizações? Da venda de proteção à população carente, que não adere por livre e espontânea vontade, por livre e espontânea pressão. Adere porque não encontra outra alternativa para preservar a própria vida.
Durante as investigações, a polícia também descobriu que seis dos acusados nas arruaças em Joinville eram responsáveis pela escolta armada dos ônibus de uma torcida organizada até os estádios. Escutas telefônicas gravadas com a autorização do Judiciário e juntadas aos autos de inquérito também revelaram o envolvimento de integrantes desse grupo com o crime organizado. Em uma delas, um dos ditos torcedores conversa com um homem que, segundo a polícia, seria traficante. Em outra gravação, os agentes identificaram o chefe de organizada pedindo a interlocutor que levasse cocaína a um bar onde torcedores estavam reunidos.
Não há dúvidas - a menor dúvida - sobre a vinculação de integrantes de grupos de vândalos - que se denominam torcedores - ao crime organizado, seja ele vinculado ao tráfico de drogas, seja vinculado a milícias.
Há perguntas que não querem calar. Várias.
Por que os clubes tratam vândalos como se fossem torcedores?
Por que esses elementos dispõem de vantagens, privilégios e facilidades que os verdadeiros torcedores não têm?
Por que não se dignam os dirigentes de entidades desportivas e clubes torná-los proscritos?
Por que a polícia tolera que esses grupelhos se reúnam nos estádios, exibindo faixas e outros adereços que os identificam claramente com bandos que se tornaram conhecidos por brigas, badernas, arruaças e até homicídios?
Por que, aqui em Belém, ainda temos a ditas torcidas organizadas, mesmo depois que o Poder Judiciário condenou-as à extinção?
Por que não aproveitar as ocorrências espantosamente deploráveis que se registraram em Joinville para criar um cadastro de torcedores brigões e impedi-los de frequentar os estádios por um certo período, dependendo do delito cometido?
A intenção - já anunciada amplamente - de punir com perda de pontos os clubes que se mostrarem omissos em providenciar segurança nos estádios em que atuarem como mandantes será realmente efetivada? Ou não passará de mais uma intenção para arrefecer as cobranças da sociedade, que não tolera mais a violência descontrolada?
Um debate sério a partir desses questionamentos poderá amparar medidas concretas e eficazes para banir os vândalos dos estádios.
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