O apagão que atingiu as regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e parte do Tocantins nesta terça-feira indica que o sistema elétrico está operando no limite, segundo especialistas. Eles avaliam que — com o nível dos reservatórios das regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste baixando e o consumo batendo recordes — há probabilidade de novas ocorrências de cortes de luz no país ao longo do ano.
Na última segunda-feira, o nível dos reservatórios no Sudeste/Centro Oeste chegou a 39,6%, contra 40,8% da semana anterior. As duas regiões, que representam 60% do consumo nacional, atingiram recorde de consumo: foi às 15h33 de anteontem, chegando a 50.854 megawatts (MW). No Sul, o armazenamento das hidrelétricas ficou em 55% na segunda, contra 59,4% da semana passada. Já as usinas da Região Norte subiram para 64,1% e as do Nordeste avançaram para 42,8%.
Atraso em projetos
Para Ricardo Savoia, diretor de Regulação e Gestão em Energia da consultoria Thymos, como as chuvas do período úmido (entre novembro e fevereiro) não vieram, há incertezas:
— Ao longo de 2013 havia a expectativa de mais chuvas, o que não ocorreu. Muitos projetos de geração térmica e de linhas de transmissão não entraram em operação. Isso elevou o risco do setor. No ano passado, no momento mais crítico, o risco de déficit de energia foi de 18%. Hoje, está em 20%. Sabemos que o aceitável é 5%.
Savoia diz que a situação poderia ser mais grave se a indústria estivesse consumindo mais:
— Se as chuvas não vierem e se os projetos de geração térmica não entrarem em operação, como o previsto, a situação ficará mais delicada. A única notícia positiva é que os reservatórios no Nordeste quase dobraram neste mês em relação a dezembro.
O consultor Raimundo Batista avalia que está ocorrendo uma degradação acentuada do sistema elétrico:
— O sistema está chegando no limite. As condições mudaram muito rápido. Um indicativo são os preços de energia no mercado livre, que atingiram patamar recorde, no teto, em R$ 822,83 por MWh. O governo incentivou o consumo e não toma medidas para reduzi-lo, potencializado pelos aumentos na temperatura — diz, em referência à redução nas tarifas anunciada pela presidente Dilma Rousseff, em janeiro do ano passado.
Já para Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, ainda há espaço para que o governo acione térmicas “mais custosas”, movidas a óleo combustível. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as térmicas responderam por 18,06% (ou 13.254 MW) da energia consumida na última segunda-feira. O número é maior que a geração de Itaipu, com 10.616 MW (ou 14,46%). As hidrelétricas somaram 46.950 MW, cerca de 63,97%.
— O risco (de déficit de energia) é de 20%. É altíssimo. A temperatura elevada contribui para o aumento do consumo. O problema é o que vai acontecer nos próximos meses, com o ritmo de chuvas. É preciso saber como vai se comportar o consumo. Como não estamos no limite ainda, é cedo para saber se haverá racionamento. Mas há risco de mais apagões — diz Pinguelli.
Falta de eficiência
A preocupação é partilhada por Hermes Chipp, diretor-geral do ONS, que lembra que hoje só cinco termelétricas não estão ligadas: quatro no Nordeste e uma no Sudeste, que juntas têm capacidade de 400 MW, ou 2,6% do total das térmicas no país. Mas lembra que as chuvas ainda podem atenuar o problema:
— Há excesso de consumo e nível baixo dos reservatórios, mas em algum momento a chuva chegará.
Roberto D'Araújo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), critica a falta de comunicação entre consórcios que constroem usinas e os que montam as linhas de transmissão:
— É preciso aumentar a eficiência energética entre as distribuidoras. Hoje, a perda de energia chega a 15%.
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