Rio - Quatro anos depois de Marina Silva receber 20 milhões de votos nas eleições para presidente, em uma campanha feita majoritariamente pelas redes sociais, 2014 começa a se desenhar como o primeiro ano em que a internet terá papel central na campanha presidencial. A aposta dos marqueteiros, para se aproximar do eleitor jovem e da nova classe média, é explorar a intimidade dos pré-candidatos na rede.
Pesquisa feita pela consultoria Bites a pedido do GLOBO no Facebook e no Twitter de Eduardo Campos, Marina Silva, Aécio Neves e Dilma Rousseff mostra que, a sete meses das eleições, os três líderes da oposição exibem a intimidade na rede para fidelizar o internauta, já que contam com pouco tempo de TV e são menos conhecidos.
Nos últimos dois meses, publicações sobre família e gostos pessoais tiveram picos de interação (curtidas, compartilhamentos e comentários) nos sites dos três. Os perfis de Dilma, no entanto, são extremamente institucionalizados, sem que se possa saber nada sobre sua vida pessoal.
No período analisado, Dilma publicou 603 vezes na página do Facebook, administrada pelo PT, e tuitou 171 mensagens — nenhuma que fugisse de assuntos oficiais.
Entre janeiro e fevereiro, Campos fez quatro publicações de caráter pessoal no Facebook e cinco no Twitter. A média de curtidas e comentários no Facebook de Campos foi de 3.949 por post. Mas a foto na qual o governador fala do nascimento do filho Miguel teve interação 1.670% maior.
Em todos os posts em que Campos expôs a intimidade, a repercussão nas redes cresceu exponencialmente. No Twitter, ao divulgar a chegada do caçula, ele motivou 50 retweets. Ao falar do aniversário de Marina, somou 22.
O tucano Aécio citou quatro vezes a família no Facebook. Se a média de interações em 2014 foi de 5.140 por publicação, no Dia Nacional da Família ele alcançou 8.593, aumento de 67%. O auge foi em 17 de janeiro, quando Aécio confirmou que será pai novamente. A informação veiculada por ele provocou 20.610 curtidas e comentários.
Na última semana, Aécio publicou foto com a mãe e compartilhou com internautas que foi a uma consulta da mulher grávida. Em 20 minutos, a foto com Leticia já tinha sido curtida 2.479 vezes e compartilhada outras 78.
'O impacto (de publicar a intimidade) é positivo, porque a internet é ligada à personalização, à humanização. Não há mais o palanque em que o político fala e os outros ouvem, é importante ficar no mesmo patamar dos eleitores', explica Gabriel Rossi, especialista em mídia digital.
A maior prova de que o internauta busca nas redes sociais algo que vá além da política é que a foto de Marina visitando Miguel, filho de Campos, teve mais curtidas (5.912) e compartilhamentos (805) que o anúncio das diretrizes do programa de governo do PSB-Rede (2.104 curtidas e 162 compartilhamentos).
'Campos está se vendendo melhor, até porque as pessoas precisam saber quem ele é. Ele precisa vender a imagem de bom gestor, bom político e bom pai de família', diz Manoel Fernandes, diretor executivo da Bites.
Apesar de não trazer aspectos da personalidade da presidente e de ser o perfil com menos seguidores no Facebook entre os dos candidatos, a página de Dilma foi a mais compartilhada em 2013, com 23,8% do total de interações. Depois, vêm Campos (21,6%), Marina (21,1%) e Aécio Neves, com 15% das interações.
Para o cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC-Rio, a humanização dos candidatos na campanha não é novidade. O que muda é o público a ser alcançado nas redes. Se, há quatro anos, a influência do político na internet era sobre o jovem escolarizado, com acesso a múltiplas fontes de informação, os marqueteiros agora se voltam para as periferias dos grandes centros, que navegam por tablets e smartphones.
'Nas eleições, a rede social vai ter peso grande nas camadas populares, porque nas escolarizadas já teve. Os marqueteiros querem partir atrás desse eleitor, o que pode começar a pôr fim ao sistema de clientela eleitoral. Esse é um grupo que queimou etapas: nunca teve computador, mas tem tablet e smartphone', diz Jacob. — O barateamento da tecnologia permite que, na periferia, as pessoas passem a acessar as redes sociais. Nas camadas escolarizadas, o peso é relativo, pois há múltiplas fontes de informação.
Responsável pela comunicação do PT, Alberto Cantalice diz que o partido vai mirar no eleitorado virtual:
'É nas redes sociais onde há forte influência da juventude e da classe média. Acredito que a rede social vai ser o segundo vetor de importância nesta eleição.'
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